quarta-feira, 8 de julho de 2009

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Às vezes pensar em ser abduzida não me parecia tão má idéia. Bom, se é que isso era possível. Vai ver nem os seres de outros planetas tinham a intenção de me levar pra longe daqui. Vai ver eles tinham tanta repulsa de mim quanto eu merecia ter, Ou vai ver eles só não se interessam. E isso não me parecia tão anormal.
Já estava acostumada com as pessoas não me notarem. - Ou pelo menos só falarem comigo quando lhes fossem necessário.
Quando ele falou comigo pela primeira vez, eu apenas assenti com a cabeça, e continuei a escrever as fórmulas de química na pequena folha de papel rosada. E derrepente, eu o respondia como a um questionário que não cessa. Interrompi-me por alguns segundos, só para me assegurar de que não falava sozinha, ou coisa assim. Alguns olhares me fitavam, com um estranhamento. Será que eu estava falando sozinha? Será que esses olhos negros cintilantes eram apenas fruto de minha imaginação? - Mas haviam tantos olhares curiosos, que talvez só quisessem saber o porque aquele menino de cabelos negros esvoaçantes insistia em falar com uma menina tão sem graça.
Ele sorriu e eu não sabia sorrir pra retribuí-lo, foi no exato momento em que o sinal tocou me dando um motivo para correr dali. É claro que eu não correria propiamente dito, mas era o que eu queria fazer. Era desesperador ficar ali, sendo alvos de tantos olhares.
Eu estava comendo a maçã avermelhada quando notei que ele conversava com alguns meninos a minha frente. Os meninos do time de Futebol.
É, ele não era um amigo imaginário ou coisa assim. Pelo menos eu não começara a inventar pessoas para me sentir mais adequada... Se é que essa palavra podia se encaixar em mim. Eu ri baixo em minha mente de minha piada sem graça, e me levantei para jogar o que sobrava no lixo, foi quando eu o senti segurar um de meus braços.
- Com licença. - Eu falei num tom monótono retirando meu braço de leve.
- Desculpe. - Disse ele num quase sussuro, e senti suas bochechas adquirirem um leve rosar.
- Tudo bem, não queria ser grossa, desculpe. - Disse eu me dirigindo para a saída. - Tenho que ir agora. Tchau.
Eu não tinha nenhum lugar para ir, mas não queria ficar ali também. Eu não estava acostumada àquele tipo de conversas, quanto mais de toques. Eu não iria deixar que ninguém se aproximasse o suficiente para sair machucado. Ou que ninguém me atordoasse também.
Caminhei até a arquibancada que estava vazia. Eu gostava muito de ficar ali. Às vezes perdia horas ali. Só até começar o próximo jogo, daí eu saia o quanto antes. Como as aves fazem ao sentir o céu nublar, sabendo que proximamente ele vai destorcer suas lágrimas em águas frias, gélidas...
Eu nem senti o tempo passar, tão absorta em meus pensamentos. O barulho das pessoas correndo foi o que me alertou, e fiquei de pé em um estalo. Arrumei a mochila em minhas costas, e saí para o próximo tempo de aula, já que esse era livre.
A aula estava monótona. Literatura nunca foi o meu forte. Pelo menos nesse tempo de aula eu não tinha que me preocupar de encontra-lo, já que ele não estava na mesma turma que eu.